Os que passam e os que ficam

Não sei onde fui desencantar aquela caixa... estava muito bem guardada desde as últimas mudanças que houve cá em casa. É uma caixa de cartão normalissima que eu descobri guardar lá dentro o tesouro da história de uma vida, dúzias e dúzias de albuns de fotografias e negativos. Agumas das fotos já estavam amarelas, alguns dos negativos colados... estragados, mas mesmo assim era uma caixa de fotografias.

Enquanto as via fui assaltada por um pensamento, por uma sensação de perda, e então uma pergunta martelou a minha cabeça: O que era feito daquelas pessoas? da Joana? da Teresa? da Vera que tinha dois namorados, e o João? por quem tive uma paixoneta? Será que a Adelaide conseguiu ser médica? Será que a Lara foi a África como queria? Talvez a Carla tenha tido um filho?
Metade das pessoas que estavam naquela caixa religiosamente guardada já não faziam parte da minha vida, passaram por mim, ficaram um pouco e partiram, ou eu parti não sei bem.
Outras pessoas passaram, muitas, mesmo muitas, das quais não guardei qualquer registo, e dessas descobri que mal me recordava das suas feições.
Naquela caixa também eu repousava com 20 anos... o meu gato, que já morreu, oh! o meu Serra da estrela! A minha irmã ainda bébe.
Nessa noite deitei-me e sonhei com todos os que passaram e não ficaram. A Carla estava grávida, a Lara tinha viajado, a Vera era solteira e o João estava gordo e feio.
Uns passam, outros ficam, todos juntos fazem história.

[E tu meu amor? que é feito de ti?]